sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

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Esquecer e perdoar. É isso que dizem por aí. É um bom conselho, mas não muito prático. Quando alguém nos machuca, queremos machucá-los de volta. Quando alguém erra conosco, queremos estar certos. Sem perdão, antigos placares nunca empatam, velhas feridas nunca fecham. E o máximo que podemos esperar é que um dia tenhamos a sorte de esquecer. Grey's Anatomy

domingo, 3 de janeiro de 2010

*-*

- Então, Charlie Brown, o que é amor para você?
- Em 1987 meu pai tinha um carro azul.
- Mas, o que isso tem a ver com o amor?
- Bom, acontece que todos os dias ele dava carona pra uma moça. Ele saía do carro, abria a porta pra ela, quando ela entrava ele fechava a porta, dava a volta pelo carro e quando ele ia abrir a porta pra entrar, ela apertava a tranca. Ela ficava fazendo caretas e os dois morriam de rir…Acho que isso é o amor.
Era tão estranho…porque mesmo sabendo que ia dar tudo certo, porque já deu certo, porque estava dando tudo certo, morria de medo que parasse de dar certo. E mesmo quando estava feliz, muito feliz, sentia uma certa tristeza porque só pensava quão ruim seria perder aquela felicidade. Pois estando sossegada e vazia como antes, pelo menos não tinha nada a perder… E vivia suas pequenas tragédias imaginárias como se fossem reais e ia esfriando, esfriando, se preparando prum tombo que nem sequer havia sido anunciado. E nem conseguia perceber que se eles já não mais passavam mal de tanta paixão é porque a coisa havia mudado: ganhara um equilíbrio qualquer que lhes permitia comer e fazer outras coisas triviais sem que se consumissem pensando no outro com toda aquela febre.Era pra celebrar perder aquele desespero pois continuavam se fazendo companhia com a mesma diversão, falando das coisas mais importantes e evitando mergulhos fora de hora que poderiam terminar em feridas ou naquele esmiuçar insistente dos que se sentem num constante afogamento e precisam se agarrar ao pescoço de alguém pra não afundar sozinho.E era tão estranho esse medo todo que quando corria na praia e o seu coração apertava, pensava logo que era um mau-presságio, uma angústia funda, um aviso ruim, quando na verdade só era preciso diminuir um pouco o ritmo e se lembrar de respirar adequadamente dentro daquela atividade física. E no fundo sabia que sempre daria certo, pro sim ou pro não, sempre seria como deveria no tempo que é próprio, na transformação que é necessária. E que o seu medo não mudaria o destino das coisas, só a fazia querer de maneira estabanada e em estado de pânico, induzindo ao auto-boicote: evitava um abraço quando mais precisava dele, dava um beijo seco quando queria deixar que ele invadisse todo o seu corpo, deixava de escrever as coisas mais bonitas pra não alimentar um possível desinteresse do outro.E ficava jogando sozinha o jogo imbecil dos que temem porque ignoram a tranqüilidade. E ficava triste, desconsoladamente triste quando poderia estar sendo o momento mais pleno da sua vida: ela estava apaixonada pela sua confusão. Era só prestar atenção no outro, na atmosfera, nos gestos, mas só tinha olhos pro seu medo.Era só ter mais confiança na vida e lembrar das tantas outras vezes que sobreviveu. E que munir-se não a imunizava. E ela só não entendia que isso ainda acontecia porque sempre investia na coisa errada: investia todas as fichas no outro esperando retorno até não sobrar nada pro trabalho mais minucioso: investir no sossego do próprio coração.


Marla de Queiroz



Minha cara esse texto.